terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Notas sobre páginas rabiscadas.

Lucas!

Decidi escrever pra você enquanto leio teu presente. Me pareceu uma boa ideia. Comecei a leitura essa semana, mas os estudos, trabalho e tudo mais me consomem quase por completo. Lerei sempre ao ter tempo livre e me atreverei a falar as baboseiras que me vierem à mente.
(12/11/12)

Se o garoto Philip fosse algo como meu amigo, eu diria que ele tem se isolado. Hoje, justamente hoje em que eu lia na sala de aula com meus fones, só pra afastar conversar inoportunas (rs). Justamente hoje, quando eu não quis papo com ninguém. Tudo por concluir que a maioria das pessoas tem sido medíocre o suficiente pra falarem, falarem, falarem e jamais pararem pra ouvir. Tem sido como se dissessem, sem pudor, que suas vidas são mais importantes. Seus feitos. Suas piadas. Enquanto eu penso, em silêncio, "vocês não sabem o que eu levo no peito". Logo depois, um outro Lucas me lembra que "é por isso que eu digo que eu não sei lidar; é muito mais do que o meu peito pode suportar". | Muita coisa tem feito sentido, pouca coisa tem feito sentido. Mas o que é a nossa consciência sobre o que faz ou não sentido, perante a infinita grandeza do Universo?
(13/11/12)

Talvez tu vá achar que eu sou louca, ou finalmente ter certeza disso. Mas insanidades acontecem, coincidências também. Hoje estava voltando da faculdade lá pelas 22:30 (ontem? Enfim). Ali no meio da rua, pertinho de casa, tinha (e quiçá ainda esteja ali) uma laranja no meio da rua. Sim, uma laranja no meio da rua. Estava chuviscando, aí lembrei de Tomato in The Rain - Kaiser Chiefs. Mas lembrei quase ao mesmo tempo  daquela foto em que o nosso planeta Terra aparece, quase por um acaso, e é comparado a um grão de areia. A um resquício de pó, perdido no Universo. Porra, Lucas! Jurei pra mim que sequer ligaria o computador, mas o fiz, e vi um post teu falando da mesma foto. Sorri. | A laranja no meio da rua. Bem, todas as reflexões que já fiz sobre aquela foto em que a Terra aparece se aplicaram a essa situação. Depende da importância que se dá. Minha visão sobre ela seria, certamente, diferente de quem a encarasse lá do final da rua. Minha visão certamente também seria diferente da de quem passasse por ali faminto com uma faca à mão. Me leva a pensar que se Alguém além de nós existe, durante toda a quase infinidade de tempo que se sucedeu até o dia de hoje, não tem observado suas laranjas muito de perto. | Mas aí já é outra história.
(14/11/12)

Lucas, às vezes algumas coisas fazem completo sentido. Parece que o susto tá ali, logo na esquina, esperando só pra ver que lado a gente vai escolher.
(19/11/12)

Certo. 23h59min, prometi a mim mesma que dormiria antes de 1h, então lá vamos nós. Não é insônia, é teimosia. | Acho que você nem vai se importar se eu jogar aqui qualquer tipo de devaneio ou angústia. Espero que não. Mas é gostoso ter pra quem escrever. Ter onde dizer o que der vontade. | "Se a gente morasse na mesma rua, essa conversa seria outra". Seria ali na frente, na calçada, tentando mensurar a grandeza da escuridão que nos cercasse. Prepara a playlist da noite aí, eu deixo. Música é tipo uma ponte que a gente tem, não é? Pontes unem lugares distintos, distantes, diferentes. Já pensou que muita gente que nos deixa feliz e muda nossa vida talvez nunca chegue ao aconchego de nossos braços? | Quando lembro disso, arranjo um ninho de palavras, pensamentos e acordes em algum par de fones; faço disso tudo um abraço.
(19-20/11/12)

Por favor, não conte quanto tempo se passou nesse hiato gigantesco desde a última vez que escrevi. Uma semana depois de já livre do final do semestre, uma semana de descanso à mente, já posso voltar a ler e escrever. Sério, estive perturbada com tamanho alívio que acabei largando das palavras. Tanto lê-las quanto escrevê-las. Sobre palavras, comentarei: estive no Museu da Língua Portuguesa, visita infelizmente breve. Dez minutos de narração sobre a história de nossa língua-mãe, seguidos de vinte minutos de poesias, enquanto projeções incríveis aconteciam no teto. As palavras eram estrelas. Talvez não fossem tão incríveis assim, mas me tocaram tanto que foram vinte minutos de Tassiane chorando (e soluçando sem controle) ao ouvir coisas que me remetiam ao tempo de escola ou à infância. Sei lá que emoção foi aquela. Vinte minutos de poesia e lágrimas que compensaram quaisquer contratempos da viagem. | Ah, fiquei hospedada no alto de um sexto andar. Já se consegue imaginar do que acabei lembrando.
(14/12/12)

Consegui terminar a leitura de Servidão Humana. Preciso admitir essa overdose de pensamentos sobre a vida desde então. Lembro que algum professor usou também da analogia com um tapete ou um tecido. Nenhuma vida se tece melhor que a outra. Nem mais bonita, nem mais valiosa. Nenhuma chega a ser igual. São apenas todas diferentes. Depois que chegam ao fim, sim, pouca diferença cada uma faz, exceto pela intervenção que se faz nas emoções alheias enquanto se vive. Pouca coisa sobra, poucos viram história. | Há poucos dias, ouvi alguém dizer que meu lugar não é aqui. Não, não como ofensa; apenas porque é perceptível que nessa cidade eu não me encaixo. Foi-me impossível não comparar com todos os sonhos de Philip viajar pra longe, pra lugares idealizados por ele como os certos pra se viver ou fazer sentido em si próprio. E eu realmente pretendo deixar daqui, não que não goste. Mas quem sabe? Quem há de saber onde vou estar amanhã? Nunca fui de muita coragem ou metas ou planos, mas percebo que com um pouco de esforço sempre acabei mudando pra melhor (fora o senso de humor atualmente incompreensível). | Ter em mãos o infinito. Philip sempre pôde. Seguiu caminhos absurdamente diferentes dos que havia planejado. Cometeu os maiores erros. Foi mais longe do que algum dia imaginara ir, mesmo que na direção errada. | Amor é praga e bênção na vida de qualquer um; nos faz ir além do que pensávamos ser o limite até para a sobrevivência. Amor e ódio acabam coexistindo, a gente foge e corre atrás do que nos correu e nos fez bem também. (Maldita Mildred.) Mas sobrevive. Tem sorte a alma que algum dia puder se entregar à reciprocidade. | Tu tens teus apenas 16, eu meus apenas 19. Com o tempo as coisas vão ficando mais sérias, profissionais, adultas, práticas, monótonas, cinza. Não sei se é bom ou se é uma pena que tenhamos que perceber isso cada vez mais cedo. Tudo deveria ser levado com mais tranquilidade, coragem, cores, atrevimento, ânimo, vontade, voz. Música. Livros. Céu noturno. Perfumes. Deveriam ser mais fáceis, já que tudo parece ser efêmero e ter como único propósito o fechamento do ciclo início-meio-fim. | Que em meio ao caos, nos sobre tempo e capacidade o suficiente para sentir. | Já é 2013. Feliz vida nova a cada dia.
(01/01/13)

Muito sinceramente, Tassiane Wanderweger.

A Lucas Amorim.