Deve haver razão para não virmos ao mundo embalados numa caixinha, acompanhados de um manual de instruções. Alguém lê manual de instruções? Quem lê manual de instruções?
Pra ler o manual de instruções, espero o telefone celular enlouquecer e pedir uma senha de acesso até então desconhecida. Espero a câmera travar na função pôr-do-sol, pra só depois descobrir que dois botões resolveriam o problema. Espero a tevê sair do ar e até assisto a uma maré de pixels em preto-e-branco pra ver se ela volta ao normal sozinha. Uso o processador apenas como liquidificador, porque “o que fazer com as outras peças e funções” é algo que está lá, no manual de instruções.
Ler o manual é buscar a solução antes que apareça o problema. É ser prevenido, precavido, preocupado, prequalquercoisa. É ter coragem de ter medo que o pior possa acontecer; é saber que talvez seja preciso vasculhar nas gavetas da memória alguma informação lida e aprendida antes de ser necessário.
E se nós viéssemos com manual de instruções? Todos os nossos medos, angústias, sonhos, desejos, qualidades, defeitos, problemas que pudessem vir a existir e a solução para cada, habilidades, propensões a desenvolver o que quer que fosse... Tudo devidamente separado por categorias facilmente acessíveis num sumário. Cidades onde se encontra assistência técnica autorizada, seguidos de endereço do fabricante e 0800 na última página.
O manual de instruções é o fim de muito mistério. Aquela peça vai ali, ó. Isso, agora é só parafusar e pronto.
Quem estaria disposto a virar páginas a fim de saber o que se passa com o outro? Talvez não leríamos nem nossos próprios. Talvez fosse invasão de privacidade. Lê-lo tavlez seria estar apressado, seria caminhar um passo à frente. Seria como stalkear toda e cada parte de um alguém-produto.
No simples impulso de vontade, seria possível descobrir ali uma infinidade de informações. Talvez perdesse completamente a graça saber como alguém funciona, seus porquês, o encaixe de suas engrenagens, os detalhes dos diversos materiais e acabamentos. Certas vezes seria preferível manter distância dos detalhes de alguns. Seria questão de escolha manter o segredo e seguir com o desafio de mútua descoberta e conhecimento. Mesmo que, afinal, se ouvisse de alguém com rosas nas mãos:
– Tu poderias saber que prefiro orquídeas...
Pra ler o manual de instruções, espero o telefone celular enlouquecer e pedir uma senha de acesso até então desconhecida. Espero a câmera travar na função pôr-do-sol, pra só depois descobrir que dois botões resolveriam o problema. Espero a tevê sair do ar e até assisto a uma maré de pixels em preto-e-branco pra ver se ela volta ao normal sozinha. Uso o processador apenas como liquidificador, porque “o que fazer com as outras peças e funções” é algo que está lá, no manual de instruções.
Ler o manual é buscar a solução antes que apareça o problema. É ser prevenido, precavido, preocupado, prequalquercoisa. É ter coragem de ter medo que o pior possa acontecer; é saber que talvez seja preciso vasculhar nas gavetas da memória alguma informação lida e aprendida antes de ser necessário.
E se nós viéssemos com manual de instruções? Todos os nossos medos, angústias, sonhos, desejos, qualidades, defeitos, problemas que pudessem vir a existir e a solução para cada, habilidades, propensões a desenvolver o que quer que fosse... Tudo devidamente separado por categorias facilmente acessíveis num sumário. Cidades onde se encontra assistência técnica autorizada, seguidos de endereço do fabricante e 0800 na última página.
O manual de instruções é o fim de muito mistério. Aquela peça vai ali, ó. Isso, agora é só parafusar e pronto.
Quem estaria disposto a virar páginas a fim de saber o que se passa com o outro? Talvez não leríamos nem nossos próprios. Talvez fosse invasão de privacidade. Lê-lo tavlez seria estar apressado, seria caminhar um passo à frente. Seria como stalkear toda e cada parte de um alguém-produto.
No simples impulso de vontade, seria possível descobrir ali uma infinidade de informações. Talvez perdesse completamente a graça saber como alguém funciona, seus porquês, o encaixe de suas engrenagens, os detalhes dos diversos materiais e acabamentos. Certas vezes seria preferível manter distância dos detalhes de alguns. Seria questão de escolha manter o segredo e seguir com o desafio de mútua descoberta e conhecimento. Mesmo que, afinal, se ouvisse de alguém com rosas nas mãos:
– Tu poderias saber que prefiro orquídeas...